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Recíproco
em traduzir a índole
do sangue: o rosto
fumegante exógeno banido:
coisa melhor que viver
é ter-se atrás da pele
um desnexo
o truque reflexivo
de regurgitar a si mesmo:
em dissuadir o esforço ido
vou-me entregando
à submersão de latitude
é o que faço - é assim
que disfarço o disfarce
ainda bem
que a poesia me existe
e me insiste
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Mr Street
inventa-se um poeta
como se inventa o dia-cheio de fome
e sede de toda espécie
humana
de expressão de arte ingênua de rua
de beijo de querência de encontro
ou de qualquer que seja o tipo
de escorregadio equilíbrio
há vezes (e são muitas)
que ele se inventa mesmo é chorando
eu não sei
se lapido sintaxes
para agradar os denotativos transeuntes
(da terra exata)
ou se me torno o tolo
que sempre fui
cuspindo maluquices insípidas
no piche em chamas que leva longe
ele nem sabe se quer ir longe
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Homem discutindo a relação
viajo e trepido estranho
minha cara
na abertura de teus lábios claros
e na fluência de teu idioma raro
lá moram as lendas
os termos
os contratos
muito a celebrar
nas noites de insônia
se se conseguir despertar
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Com os pés na cabeça
entreguei-me a trabalhos forçados
para ser liberto
quantas vezes mais fugirei de minha fuga
e perseguirei a mim mesmo?
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Mascarágua
claridades
vão me apagando
os olhos
a boca
os cabelos internos
preciso estar inteiro
na minha dissolução
o tempo empresta as mãos
ao trabalho árduo
e faz com que me esconda
entre os dentes da cabeça
no espaço entre a língua
e o movimento do queixo
dentro do sangue
que escorre na saliva
posso fazer sempre o mesmo
mas nunca sou o mesmo
iludo como um rio ilude